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Autora: Raquel Alfieri Galera. Doutoranda em Geografia Física pela Universidade de São Paulo (USP)

As projeções das mudanças climáticas realizadas pelo IPCC (2019) preveem transformações nas dinâmicas dos sistemas ambientais e impactos irreversíveis nos ecossistemas costeiros. O aquecimento dos oceanos somado a aceleração do derretimento das calotas polares pode induzir uma elevação de 110 cm no nível mar até 2100, conforme as projeções mais críticas dos cientistas. Essas mudanças nos sistemas ambientais se traduzem em perigos costeiros que acarretam perdas e danos sobre as estruturas sociais, especialmente nas comunidades costeiras expostas e vulneráveis.

Fonte: IPCC, 2019

Estudos indicam que estes fenômenos extremos associados ao processo de elevação no nível do mar têm aumentado na sua frequência e magnitude dos seus impactos, intensificando os efeitos das ameaças de inundações e erosão costeira. A elevação no nível do mar pode ocorrer de diferentes formas e intensidades. Os eventos rápidos de aumento relativo estão correlacionados aos extremos nos padrões oceanográficos-meteorológicos, como as ressacas e os ciclones. Sua ocorrência pode acarretar o aumento na intensidade das chuvas, na velocidade dos ventos e agitação marítima, com ondas de maior amplitude e energia de propagação, com efeitos diretos observados significativos sobre a linha de costa. Territórios muitas vezes ocupados, com funções essenciais a vida, onde se localizam serviços ecossistêmicos únicos, equipamentos e serviços. A elevação de longo termo altera de forma permanente as dinâmicas dos ecossistemas costeiros, devido ao recuo da linha de costa, a intrusão salina e elevação do lençol freático, transformando também as paisagens continentais das baixas amplitudes com relação ao nível do mar. A sobreposição destes fenômenos causa impactos muitas vezes irreversíveis, exigindo a adaptação das comunidades presentes nestes espaços.

Fonte: Celia Regina Gouveia, pesquisadora do Instituto Geológico do Estado de São Paulo. Disponível em: https://arte.folha.uol.com.br/ciencia/2018/crise-do-clima/litoral-paulista/no-litoral-de-sp-erosao-come-praias-e-ate-casas-inteiras-obras-buscam-protecao-contra-ressacas-mais-frequentes/

Como consequência, em curto prazo, as praias e a orla dos municípios localizados em zonas costeiras podem ter as suas economias impactas diretamente devido a desastres de ordem natural, que podem, por exemplo, inviabilizar o uso recreativo de praias em certos períodos ou limitar a pesca, afetando diretamente as comunidades dependentes destas atividades. Em longo prazo, a habitabilidade em ambientes de até 10 m acima do nível do mar pode ser comprometida de forma irreparável. Como única alternativa viável, pessoas ou comunidades inteiras poderão ser removidas de seus territórios, uma vez que, estes lugares correm o risco de deixar de existir.

Praia Indaiá – Caraguatatuba/SP – Erosão costeiras impactando diretamente os equipamentos instalados na praia.

Praia de Massaguaçu – Caraguatatuba/SP – passeio interditado devido a intensa erosão costeira e recuo na linha de costa

O potencial dos riscos costeiros e desastres associados as mudanças climáticas e os seus impactos locais ainda parecem incertos. O cenário crítico demanda que o planejamento territorial das cidades seja feito de forma responsável e participativa, para não aumentar os riscos e expor um número ainda maior de pessoas aos impactos imprevisíveis.

Atividade de formação ERRD – Praia de Tabatinga (11/2019)

Referência: IPCC, 2019 – Relatório completo disponível em: https://www.ipcc.ch/srocc/